quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

#Brasilcomlinux

Das palavras à ação: #Brasilcomlinux apoiando a busca de um #Brasilsemvirus

qua, 01/02/12 por augusto | categoria Sem categoria
Após ter visto tantas vezes a hashtag da campanha #Brasilsemvirus ser rebatida (no Twitter e em blogs) com #Brasilcomlinux, me senti tentado a escrever a respeito mesmo sabendo que a maioria dos leitores que chegarão a se interessar pelo meu texto já tem formada a sua base de conhecimento sobre segurança digital – pois meu alvo é composto justamente por eles.



Mantenho desde 1996 o BR-Linux.org, um blog especializado em Linux, e o que vi nestes 15 anos me faz considerar irreal, como solução ampla, esperar que os usuários hoje sujeitos a infecções por softwares maliciosos aceitem coletivamente um convite de instalar Linux em seus computadores e passem a estar aptos a mantê-lo melhor do que mantêm o Windows hoje. Não é razão para que o convite deixe de ser feito, mas o torna insuficiente, na minha visão, quando o esforço de quem convida para por aí.
E não penso isso por falta de tutoriais ou de instaladores suficientemente amigáveis, mas porque os usuários que são alvo primário deste tipo de campanha de prevenção, considerados de modo geral, não estão aptos a avaliar mudanças de configuração profundas como a troca do sistema operacional já instalado em seus computadores.
É por isso que este texto se dirige não aos usuários de computadores hoje expostos a vírus e que podem se beneficiar do Linux, mas sim a quem oferece #Brasilcomlinux como sua resposta a #Brasilsemvirus mas pode ter algo de concreto a acrescentar a essa sua resposta.
Questão de atitude
Minha percepção é que muitos dos que usam a hashtag como resposta assumem a atitude de “vírus não é problema meu, uso Linux“. Infelizmente não é verdade, nem mesmo no caso de quem usa essa tag e é de fato usuário de Linux: os vírus que até o momento nem tentam entrar no seu computador mas infestam o do vizinho, o do colega de trabalho e o da sua tia atingem você de várias formas: gerando tráfego que reduz a velocidade da sua Internet, obrigando bancos e sites de comércio eletrônico a tomar uma série de precauções chatas que também se aplicam a você e a seus clientes, multiplicando o envio de spam e mais.
Sou favorável a que as pessoas hoje vítimas de vírus recebam todo o apoio que puder ser dado a elas no sistema que usam, e aplaudo iniciativas de informação e oferta de ferramentas como a da campanha #Brasulsemvirus, com potencial de chegar a pessoas que muitas vezes ficam de fora deste tipo de orientação.
Mas disseminar a ideia alternativa de um #Brasilcomlinux neste contexto também tem um sentido interessante, quando se pensa na prevenção aos vírus de computador: por uma série de fatores (econômicos, de arquitetura de sistemas, de público-alvo e mais), a presença de softwares maliciosos infectando computadores com Linux é rara (e o mesmo também ocorre em outros sistemas UNIX e Unix-Like: OS X, FreeBSD e tantos outros). Só que não basta dizer “os usuários deveriam migrar para Linux” ou “Quem faz campanha com antivírus devia fazer com migração para Linux” e pensar que contribuiu muito.

Linus Torvalds, criador do Linux, tornou célebre a frase “Talk is cheap, show me the code“, ilustrada na simpática caneca da Cafepress acima e que na prática significa o mesmo que “falar é fácil, quero ver é uma solução”. Neste espírito, quero aproveitar a oportunidade e convidar os colegas que em algum momento usaram a hashtag #Brasilcomlinux para fazer pouco caso de uma iniciativa alheia pela redução do impacto negativo dos malwares a buscar também uma ação positiva, ainda que pouco visível, para disseminar o código aberto como solução preventiva.
Não precisa ser nada em grande escala, complicado, nem envolver reuniões ou depender de coordenação e participação alheia: em dezembro eu já havia feito o chamado para que o público técnico aproveitasse as visitas de final de ano para fazer o upgrade do navegador dos netbooks das suas tias, e este tipo de medida local (incluindo a possível substituição por um navegador mais robusto ou baseado em open source) certamente já ajuda a tia bem mais do que twittar que ela deveria estar usando Linux.
Uma resposta mais completa: oferecer um sistema bem mantido
Só que este upgrade de computadores de tias, metafóricas ou não, nunca é uma tarefa simples. Muitas vezes o desafio é saber quando parar, pois quase sempre se descobre que o firewall pessoal estava desativado, o antivírus estava vencido, os plugins Java e Flash estavam desatualizados, etc.
Acostumados a nossos próprios sistemas bem mantidos, à ausência de “utilitários” de segurança que ficam colocando entraves às operações de administração, a ferramentas de atualização automatizadas que funcionam bem e a conexões à Internet de melhor qualidade, nós usuários experientes de Linux muitas vezes sofremos (a ponto de rejeitar o desafio) ao precisar fazer uma manutenção básica nos PCs de nossas tias em que tudo parece ter sido feito para atrapalhar a boa manutenção.
A dura realidade é que mesmo o sistema operacional que a tia usa poderia estar em boas condições de manutenção. Mas raramente se trata de uma versão recente, muitas vezes aqueles recursos indesejados que os fabricantes instalam para “agregar valor” estão lá ativos e ocupando recursos mesmo sem ter nenhuma utilidade prática desejável, a ausência acumulada de manutenção também cobra seu preço, e aí a explicação fácil de que as coisas são assim “porque não é Linux” mascara a realidade de que as coisas são assim porque a tia (que neste caso é uma metáfora para boa parte dos usuários que sofrem regularmente com a ameaça de infecções) não aprenderá a configurar o sistema, usa tudo da forma como estiver, e não conta com alguém que a oriente de forma continuada.
É aí que entra a minha forma pessoal de fazer funcionar a ideia de um #brasilcomlinux para as pessoas que estão ao meu redor, que descreverei a seguir.
Minha receita pessoal para contribuir com o #Brasilcomlinux
Quando suspeito que vou ajudar alguém com a manutenção de um PC nessas condições, tento me preparar levando comigo um pen drive contendo:
  1. a versão atualizada do navegador e dos plugins essenciais
  2. alguns Portable Apps em código aberto para Windows (que rodam direto do pen drive, sem precisar instalar), para casos de necessidade
  3. uma versão recente de uma distribuição Linux (geralmente o Ubuntu) pronta para rodar diretamente, sem instalar.
Minha estratégia é a seguinte: como as tias logo se afastam porque não conseguem prestar atenção por muito tempo nos procedimentos e recomendações que surgem enquanto ocorre o upgrade do navegador, aproveito o momento em que elas saem para fazer um cafezinho e testo o Ubuntu do pen drive nos computadores delas (incluindo aqueles detalhes que muitas vezes nos quebram as pernas: suporte a impressora, à conexão de rede, saída de áudio, microfone, os arquivos no disco do Windows, etc.).

Quando ela retorna trazendo o café quentinho, já estou com tudo testado e apresento a ela o navegador (rodando no Ubuntu, mas ela não sabe), digo que neste momento vai ser normal ela ter de cadastrar novamente a senha da rede social e do webmail, peço para ela testar o acesso ao banco, para ver se seus arquivos (que geralmente não são muitos) estão abrindo, pergunto se ela usa o Skype e peço para testar também.
Quando tudo dá certo, em algum ponto do processo eu ouço o comentário de que tudo está mais rápido, e é aí que conto que na verdade ela está usando o sistema do pen drive. Para ilustrar, dou um reboot para mostrar como é rápido e automático, mostro onde estão os ícones dos aplicativos, digo quais as vantagens (desempenho e segurança), explico que também pode haver incompatibilidades mas que o sistema antigo dela continua lá instalado, e que para usá-lo basta ligar o computador sem o pen drive conectado.
E este é o ponto crucial: é a hora em que demonstro o boot do Windows que já estava lá, no qual me limitei a fazer as atualizações essenciais. Tendo agora uma alternativa para comparar, a tia quase sempre percebe o contraste na visão daquele boot loooongo, seguido de abertura do antivírus, firewall e das várias janelas que se sucedem passando para o usuário a mensagem de “não posso mexer ainda”, bem como o tempo de resposta maior no navegador em um computador que está rodando todo tipo de utilitário de controle e segurança.
Os resultados variam: o conforto de a alternativa conhecida continuar à disposição e o fato de que a maior parte das tarefas delas são feitas no navegador (cuja interação não muda tanto assim) permite que muitas tias aceitem de braços abertos aquele sistema do pen drive, que roda tão mais rápido.
Aí eu as ensino a tirar uma screenshot para me mandar por e-mail quando surgir alguma mensagem desconhecida com as quais elas não saibam o que fazer, me certifico de que saberão voltar para o Windows quando quiserem, e fico preparado para responder a várias dúvidas na primeira semana, e para orientar na manutenção quando for necessário. Caso a adoção do Linux se confirme, uma segunda visita poucas semanas depois levará a uma instalação completa no disco rígido, configurando a atualização automática e tudo que a tia merece em termos de um sistema feito para durar.
Mas sempre há um percentual de tias que preferem que tudo continue do jeito que elas já se acostumaram, e com essas eu não insisto: pouca coisa pode ser mais irritante que alguém que se acha missionário de algum sistema operacional.
Para ir além do Twitter, um #Brasilcomlinux dá trabalho
Manter computadores alheios dá muito trabalho e exige muita paciência, e quando você instala um sistema novo no computador de alguém, ficará marcado para sempre como referência para qualquer dúvida ou problema. Muitas iniciativas (de grande e pequeno porte) de migração para Linux falharam porque quem estava disposto a fazer a configuração não tinha uma solução para a posterior manutenção.
Se for este o caso, às vezes é bem mais cômodo contribuir para o #Brasilsemvirus simplesmente indicando alguém que possa fazer a manutenção regular do Windows do computador da tia. Me envolver diretamente é algo que eu faço apenas pelas pessoas com as quais me importo, ou quando percebo que simplesmente não há outra alternativa.
Embora não me incomode em nada quando elas preferem usar outro sistema, oferecer o Linux como uma alternativa de menos manutenção, para pessoas que não sentirão falta de recursos específicos do Windows, é uma forma a meu alcance de contribuir para que elas aproveitem o potencial dos seus computadores por mais tempo, e que se livrem de diversos casos reais de infecção ou verdadeiras infestações de malware.
Não é propriamente um esforço de inclusão digital ou em busca de ampliar os números do Linux (há iniciativas neste sentido se você quiser procurar e aderir), mas sim uma maneira de contribuir na prática com a solução dos problemas das pessoas próximas que me procuram e que eu gostaria de ajudar, uma vez que a manutenção completa do seu sistema Windows (usualmente desatualizado, frequentemente sem licença e precisando de manutenções profundas) exige técnicas que não domino.
Para mim é uma forma prática, ainda que restrita, de juntar a ideia do #Brasilcomlinux à do #Brasilsemvirus. E que vai além do mero discurso reativo mencionado no início deste texto.
Fica, portanto, o convite: se você já pensou em #Brasilcomlinux quando viu a tag #Brasilsemvirus, e se conhece Linux o suficiente para manter o sistema de alguém, localize entre as pessoas próximas a você quem é a tia que poderia se beneficiar realmente deste sistema como alternativa ao que ela tem hoje, e permita que ela o experimente em seu próprio equipamento.
Após alguns dias, se ela aprovar, providencie uma migração em base mais definitiva, e a ajude na transição: mesmo que seja só um caso, será um resultado bem maior do que o de outras pessoas cuja “contribuição” na prevenção aos vírus se reduz a retrucar com uma hashtag que no caso delas nem sempre vem acompanhada de nenhuma iniciativa real que aumente o número de usuários de Linux ou que reduza a exposição a vírus das pessoas a seu redor!.

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